Propriedades Curativas da Meditação
A
metade dos anos 70 presenciou uma inundação de pesquisas sobre a
meditação, enfocando principalmente os seus benefícios para a saúde. O
rigor metodológico desses estudos era, falando honestamente, desigual.
Mas a força das descobertas era clara: a meditação era útil em muitos
aspectos. Por exemplo, a prática regular da meditação diminuía a
freqüência de resfriados e dores de cabeça e reduzia a gravidade da
hipertensão. Apesar de essas aplicações médicas terem recebido alguma
atenção, a maior receptividade partiu dos psicoterapeutas, que apontaram
para muitos benefícios da meditação: um meio de os pacientes lidarem
com a ansiedade sem o uso de medicamentos, de terem acesso a lembranças e
sentimentos que estavam bloqueados, e como uma prescrição genérica para
o tratamento de ampla variedade do estresse. A meditação tornou-se o
instrumento por excelência de controle do estresse e foi expressivamente
divulgada em escolas, hospitais e empresas, juntamente com uma
variedade de outras técnicas de relaxamento.
Meditação
e relaxamento são coisas diferentes: em essência, a meditação é o
esforço para reexercitar a atenção. E isso que dá à meditação os efeitos
incomparáveis de obtenção de conhecimentos, aumento da concentração e
capacidade de relacionar-se com empatia. A meditação é porém mais usada
como uma técnica rápida e fácil de relaxamento.
Embora
as raízes orientais da meditação fossem exóticas, tornou-se evidente
para os pesquisadores que, em termos de seus efeitos metabólicos, ela
tem muito em comum com as técnicas de relaxamento criadas no Ocidente,
como o relaxamento progressivo e a bio-realimentação da tensão muscular
do americano Edmund Jacobsen, e métodos europeus, como o treinamento
autogênico. A meditação difere de outras técnicas de relaxamento em seus
componentes reflexivos, como Herbert Benson destacou em seu best-seller
The Relaxion Response, mas uma de suas principais qualidades
terapêuticas está na eficácia em levar a pessoa que medita a um estado
de relaxamento bastante profundo.
Com
o prosseguimento das pesquisas das técnicas de relaxamento como meio
para se lidar com o estresse, sua eficácia tornou-se mais evidente. As
alterações neuroendócrinas conseguidas com um relaxamento intenso
mostraram ser mais profundas do que imaginaram os primeiros
pesquisadores, que viam as técnicas de relaxamento principalmente como
um meio para aliviar a tensão muscular e a preocupação mental.
Investigações mais sofisticadas revelaram profundos efeitos do
relaxamento em funções imunológicas e no âmbito de outras alterações,
com aplicações clínicas específicas.
Janice
Kiecolt-Glaser, por exemplo, verificou que os idosos internos de um
asilo que usavam um exercício de relaxamento mostraram um aumento
significativo em suas defesas imunológicas contra tumores e vírus.
Estudantes de medicina que usaram essas técnicas para combater o
estresse dos exames revelaram níveis maiores de células auxiliares que
protegem contra doenças infecciosas. A descoberta dessas transformações
explica os primeiros relatórios informando que a meditação, por exemplo,
aumenta a resistência a gripes e resfriados.
Talvez
o mais antigo e mais significativo interesse médico sobre o relaxamento
tenha sido relativo à ajuda que ele presta ao combate de doenças
cardíacas. Pesquisadores que trabalharam com o Dr. Benson informaram que
a meditação diminuía a resposta do corpo à norepinefrina, um hormônio
que o organismo libera em reação ao estresse.
Apesar
de a norepinefrina normalmente estimular o sistema cardiovascular,
aumentando a pressão sanguínea, ela não produzia o mesmo efeito nas
pessoas que costumavam meditar. Em vez disso, elas mostraram uma
diminuição na pressão sanguínea. Essa reação é igual à dos
betabloqueadores receitados para controlar a pressão sanguínea.
A
utilização clínica do relaxamento para controlar a pressão alta,
principalmente em casos moderados, tornou-se um tratamento comum, como
registra o relatório do Instituto Nacional de Saúde. Se praticada
constantemente, em geral ela pode substituir a medicação ou diminuir o
uso de remédios. Em um estudo feito na Inglaterra, pacientes treinados
nesse método revelaram baixas na pressão sanguínea quatro anos depois de
terem encerrado o treinamento.
Os
benefícios para pacientes com doenças cardíacas vão além do controle da
pressão sanguínea. Revelou-se que o relaxamento ajuda a aliviar as
dores da angina e a arritmia e baixa os níveis de colesterol no sangue.
Dean Ornish mostrou que o relaxamento praticado regularmente aumenta o
fluxo de sangue para o coração, diminuindo o perigo de uma isquemia.
Os
diabéticos também podem se beneficiar com o relaxamento. Richard Surwit
descobriu que essa prática melhorou a regulagem de glicose em pacientes
com diabetes adquirida na fase adulta. Utilizando o relaxamento
progressivo de Jacobsen com asmáticos, Paul Leher verificou uma
diminuição das reações emocionais que geralmente precedem os ataques e
uma melhora do fluxo de ar nas vias respiratórias obstruídas.
Para
pacientes que sofrem dores, algumas formas de relaxamento oferecem uma
perspectiva promissora. Jon Kabat-Zinn verificou que a meditação
consciente, junto com a ioga, reduziu a necessidade do uso de
analgésicos e diminuiu a dor em quem sofria de problemas crônicos. As
causas do sofrimento iam desde dores nas costas e na cabeça (enxaqueca e
tensão) aos vários casos vistos em clínicas da dor. Quatro anos após o
final do treinamento, os benefícios ainda se mantinham.
Todos
os tipos de técnicas de relaxamento estão sendo usados por pacientes
dos mais variados tipos, principalmente nos casos em que o estresse é a
causa principal do problema - e existem pouquíssimos casos em que isso
não ocorre. Algumas das aplicações mais promissoras estão sendo vistas
no combate aos efeitos colaterais da hemodiálise, da quimioterapia, das
desordens gastrointestinais, da insônia, enfisema e doenças de pele.
O
relaxamento também é usado amplamente como coadjuvante na psicoterapia,
onde tem sido muito melhor aceito do que na medicina. Entretanto,
existem alguns problemas na aplicação dessas técnicas. Algumas pessoas
podem reagir ao relaxamento aumentando a tensão e até mesmo entrando em
pânico. Nesses casos, o relaxamento deve ser introduzido após uma
preparação especial, ou simplesmente não deve ser usado.
Há
outras situações nas quais a meditação pode não ser apropriada para um
paciente. Um esquizofrênico talvez piore o seu contato com a realidade,
tornando-se excessivamente absorvido pelas realidades internas. Quem se
encontra em estados emocionais agudos talvez esteja demasiadamente
agitado para iniciar uma meditação. Obsessivos-compulsivos podem ficar
excessivamente fechados a novas experiências para fazer a meditação, ou
podem estar ansiosos demais para isso.
Uma
tarefa que temos pela frente é separar as diferenças significativas
entre as técnicas de relaxamento e de meditação em relação às pessoas e
problemas para os quais podem ser usadas com mais eficácia. Mas as
pesquisas evidenciam com a maior clareza que esses métodos oferecem um
poderoso meio de despertar a capacidade interior dos pacientes para que
participem de sua própria cura.
Do livro: A Arte da Meditação, de Daniel Goleman
Nossa Sala de Meditação e Relaxamento em nossa Loja.
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